RSS

O DIA DA MENTIRA É DIA 13 DE MAIO

Uma música antiga que eu escrevi em 2002 e nunca cheguei a gravar diz no refrão: “O dia da mentira é dia 13 de maio”. Um dos maiores benefícios que o Movimento Hip-Hop trouxe para mim foi eu me enxergar como negro. Lembro que na minha adolescência, pessoas negras moradoras de favelas, diziam que eram morenas e que moravam na área verde, como uma tentativa de se “defender” de preconceitos e discriminação. Após eu conhecer o Movimento Hip-Hop, na metade da década de 90, em pouco tempo comecei a me assumir como negro e como morador de favela. Racionais Mc’s vinha com músicas como Racistas Otários: “Os poderosos são covardes, desleais / espancam negros nas ruas por motivos banais / e nossos ancestrais / por igualdade lutaram, se rebelaram, morreram”. Rappin Hood cantou o orgulho negro na música Sou Negrão: “Sou negrão, certo sangue bom / 20 de novembro temos de repensar / a liberdade do negro, tanto teve de lutar”. O grupo Z’áfrica Brasil foi uma grande voz da musica e cultura negra, sempre relembrando em suas canções a luta dos negros pela libertação. Basta analisarmos o título de algumas de suas músicas para percebermos: “Antigamente Quilombos Hoje Periferia, Origens, O Rei Zumbi, Zabumba de Gangazumba, Tem Cor Age, Quilombo Invencível, Reparação, Z'Africanos”. O rapper GOG gravou uma canção intitulada Carta á Mãe África onde conseguiu pautar de forma poética a problemática racial: “Mãe! Aqui crescemos sub-nutridos de amor / A distância de ti, o doloroso chicote do feitor / Nos tornou, algo nunca imaginavel, imprevisível / E isso nos trouxe um desconforto horrível / As trancas, as correntes, a prisão do corpo outrora / Evoluiram para a prisão da mente agora / Ser preto é moda, concorda? Mas só no visual / Continua caso raro ascensão social (...) No mural vedem uma democracia racial / E os pretos, os negros, afro-descendentes / Passaram a ser obedientes, afro-convenientes / Nos jornais, entrevistas nas revistas / Alguns de nós, quando expõem seus pontos de vista / Tentam ser pacíficos, cordiais, amorosos / E eu penso como os dias tem sido dolorosos / E rancorosos, maldosos muitos são / Quando falamos numa miníma reparação: / Ações afirmativas, inclusão, cotas?! / O opressor ameaça recalçar as botas / Nos mergulharam numa grande confusão / “Racismo não existe e sim uma social exclusão” / Mas sei fazer bem a diferenciação / Sofro pela cor, o patrão e o padrão”.

No meu ponto de vista uma das maiores conquistas do Movimento Negro foi a não aceitação do dia 13 de maio como um dia importante para o negro ser lembrado. O movimento lutou, reivindicou e provou que a abolição da escravatura não foi uma concessão do branco e sim uma conquista do negro. E intitulou a data de 20 de novembro como o dia da Consciência Negra, que foi o dia do assassinato de Zumbi dos Palmares. Zumbi morreu no ano de 1695 e a lei Áurea só foi assinada em 1888, a escravidão seguiu por mais 193 anos após a morte do líder negro. A lei Áurea para o negro não serviu, porque não reparou os 350 anos de escravidão e o negro nessa altura já estava se libertando por si próprio. Com a organização dos quilombos, os negros voltavam até as fazendas para resgatar outros negros, botavam fogo nas plantações e enfrentavam os Capitães do Mato. Se a escravidão no Brasil seguisse por mais 10 anos já não existiriam negros nessas fazendas, teriam se libertado por conta própria. Além desse fator havia na época uma grande pressão internacional, pois o Brasil era o ultimo país onde a escravidão ainda perdurava.

Nos últimos anos o Movimento Negro conseguiu em alguns estados o feriado do dia 20 de novembro em memória a Zumbi dos Palmares. Esse dia é um dia de luta, onde travam lutas pelo fim da desigualdade social e racial e também uma data para celebração da cultura negra. Uma parcela também se apropriaram da data 13 de maio para organizarem protestos e manifestações em repúdio à falsa abolição. A maioria da classe trabalhadora explorada é negra. A opressão tem classe, tem sexo e tem cor, quem sofre todo o peso e mazelas da sociedade capitalista é a mulher negra moradora de favela.

A abolição da escravatura não representou a abolição da escravidão. A desigualdade, opressão e escravidão continua, a luta também.



Ouçam as músicas:

Racistas otários - Racionais mc's

Sou negrão / Rappin Hood / clipe

Reparação - Z'África Brasil

Carta à mãe África – GOG

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários:

Postar um comentário